A difícil mobilização pelo Desenvolvimento Sustentável

Desenvolvimento Sustentável

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As grandes ações em favor do desenvolvimento sustentável dependem da definição de políticas públicas, que são pensadas por políticos e não por técnicos. Portanto, há sempre um desafio a ser enfrentado na mobilização pelo desenvolvimento sustentável, que nem sempre é visto como prioridade pelo Poder Público.

Assim, nesse artigo vamos falar mais sobre esse desafio e como se preparar para obter resultados significativos em prol de uma economia sustentável.

 

Por que é tão difícil a mobilização pelo Desenvolvimento Sustentável?

Sem dúvida, as expectativas em relação ao Poder Público variam muito em função das culturas nacionais e das características da economia e dos sistemas políticos locais. Com efeito, essas coisas só mudam rapidamente quando ocorrem crises dramáticas, que não deixam margem de escolha para as pessoas.

Contudo, a lógica de decisão do político é, sempre, uma lógica de poder. Ou seja, no sistema político ocorre um processo de troca de percepção de satisfação de necessidades/desejos por apoio/voto. Assim, o político tende a favorecer ações que atendam um maior número de pessoas para ter, em troca, um maior número de apoiadores. Então, é aí que surge o problema: a dificuldade para mobilizar um grande número de pessoas em favor de causas de desenvolvimento sustentável.

Além do mais, para piorar as coisas, isso cria uma grande frustração nas pessoas engajadas. Afinal, elas se sentem abandonadas pelo Poder Público e, por vezes, são estimuladas à radicalização. 

De fato, é impressionante a diferença entre o volume de coisas que falamos sobre a sustentabilidade e o volume de coisas que fazemos por ela. Embora sejam muitas as causas que geram esse efeito, vamos discutir apenas três: complexidade, vieses cognitivos e percepção de risco.

 

1. A complexidade dos temas de sustentabilidade

 A primeira questão é a complexidade dos temas que permeiam a sustentabilidade. De fato, as relações de causa e efeito nem sempre são claras, além de causas e efeitos estarem distanciados no tempo. Também são muitas as inter-relações entre os fatores, a imprevisibilidade é forte, e tudo isso torna difícil a compreensão do problema.

Então, sem tempo e/ou disposição para aprofundar-se na questão, a grande maioria toma uma posição passiva em relação a ela. Assim, uma minoria envolve-se em processos de polarização de ideias, que em nada ajudam na mobilização da maioria, e ainda atrapalham aqueles que buscam o caminho das bases científicas. 

Inclusive, cabe aqui lembrar que a comunicação dos fatos científicos é difícil. Afinal, aparece associada a um complicado problema de autoridade de fonte: em quem acreditar quando há divergência. Por isso, a ideia de que há um “consenso” científico que justifica certas medidas não é de fácil aceitação. Sobretudo em países nos quais as pessoas têm uma relação difícil com o conceito de “autoridade” e uma forte tendência à reatância psicológica.

 

2. Os vieses cognitivos que regem a mobilização pelo desenvolvimento sustentável

Depois, vem o fato de que a posição das pessoas face a questões de sustentabilidade é fortemente afetada por vieses cognitivos. São eles:

 

Viés do otimismo

O viés do otimismo nos estimula a acreditar que as previsões de desastres são exageradas.

 

Efeito carona

Já o “efeito carona” nos leva a pensar que não precisamos fazer nada, porque outros vão fazer e nos beneficiaremos disso. 

 

 

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3. A percepção de risco

O terceiro ponto é a questão da percepção de risco, através da qual muitas pessoas não vêm o porquê de investir tempo e/ou dinheiro em questões de sustentabilidade. Os motivos podem ser diversos, mas, principalmente por:

  • não entenderem o problema,
  • acharem que ele não tem uma dimensão preocupante,
  • acreditarem que tudo vai acontecer num futuro distante, fora de sua expectativa de vida.

Então, como muita gente assume essa posição, isso não cria desconforto pessoal e não aparecem pressões sociais para a mudança de comportamento. Assim, o sentimento de estar agindo como parte de uma maioria valida a acomodação, inclusive pela percepção de que uma ação isolada “não vai mudar nada”.

 

As pessoas de fato se importam com sustentabilidade?

Portanto, sem sentir que a questão da sustentabilidade é vista como importante por grande parte da população, os políticos não encontram nela uma fonte de crescimento de seu poder. Logo, não dedicam maior atenção às possíveis políticas públicas a ela relacionadas.

Dessa forma, sem os políticos, a sociedade, em seu todo ou em seus segmentos, não consegue promover as enormes mudanças exigidas por questões da dimensão do desenvolvimento sustentável.

 

Como obter resultados e influenciar o desenvolvimento sustentável?

Antes de mais nada, ressaltamos que obter resultados positivos num quadro tão adverso não é simples nem rápido. De fato, isso exige tempo, persistência e muito esforço de comunicação.

 

A Ciência Comportamental

Felizmente, a Psicologia e a Ciência Comportamental vêm trazendo importantes contribuições ao processo de entender as reações aos problemas de sustentabilidade e ao desenho de programas de comunicação nessa área. Também importantes são os estudos sobre o formato de políticas públicas, o que pode gerar um indesejado “efeito bumerangue” no qual a ação desenvolvida reforça o comportamento indesejado.

 

Modelos de análise

Além disso, modelos de análise são ferramentas importantes que podem ajudar muito na busca de mudança comportamentais relativas à sustentabilidade. Por exemplo, o TPB: Teoria do Comportamento Planejado, o NAM: Modelo da Ativação da Norma, o VBN: Valor-Crença-Norma e o GMSD: Modelo Geral dos Dilemas Sociais. Então, vale a pena conhecê-los.

De fato, nenhum deles resolve o problema sozinho. Mas, todos propõem importantes reflexões e ajudam na definição de caminhos para a ação.

 

Pensamento Sistêmico

Por fim, da maior importância também é o uso do Pensamento Sistêmico. Sobretudo no estudo das questões de desenvolvimento sustentável e, em especial, na definição de seus problemas e das intervenções capazes de mitigá-los ou saná-los.

A saber, o Pensamento Sistêmico é um processo de análise em quatro graus de profundidade: os fatos, as tendências, os sistemas que geram os fatos e os modelos mentais ligados a esses sistemas. Portanto, o Pensamento Sistêmico nos convida a analisar as situações como sistemas complexos, buscando identificar o todo e não apenas as partes. Dessa forma, é possível agir sobre aquilo que realmente causa o problema e não sobre os sintomas gerados por ele.

Por fim, a competência no uso de todo esse arsenal não é coisa simples. No entanto, é indispensável para o profissional envolvido com os diversos aspectos do desenvolvimento sustentável – um grande desafio no caminho do sucesso.

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