Novos modelos econômicos e de gestão para o século XXI

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No dia 05/09/2021- dia da Amazônia – o Estadão trouxe, como manchete de primeira página, a matéria “Iniciativas lucram com a preservação da Amazônia”. A matéria trouxe exemplos reais de soluções para evitar tragédia ecológica sem volta e que, ao mesmo tempo, aumentam a renda obtida com a floresta em pé. Além de abordar a temática em várias páginas, propondo uma ampla discussão, o jornal trouxe ainda um caderno especial sobre a “Conferência Brasil Verde”. De acordo com o periódico, a questão não é mais se o Brasil e o mundo precisam ou não entrar em uma era de sustentabilidade. Mas, o debate agora é como fazer isso da melhor forma possível e sem perda de tempo. Dessa forma, há uma urgência por novos modelos econômicos e de gestão para os próximos anos.

Sem dúvida, essa publicação é um pequeno exemplo do fato, já sobejamente conhecido, de que estamos vivenciando uma colisão da humanidade com o planeta. Por isso, precisamos repensar urgentemente as nossas práticas de gestão e de enfoque econômico. Primeiramente, não é mais possível acreditar que podemos buscar um crescimento infinito em um planeta finito. Assim como também não se pode mais aceitar que o mercado por si só pode nos levar a um mundo mais justo. Nem ainda que mais riqueza equivale à maior felicidade.

Portanto, nesse contexto, as abordagens econômicas convencionais, que se baseiam na virtuosidade do crescimento do PIB, vêm nos conduzindo a um desenvolvimento degenerativo. Isto é, um crescimento apoiado em projetos de produtos e serviços baseados em abordagens mecanicistas, reducionistas e fragmentadas. Ou seja, em  confronto com as leis da natureza, requerem o consumo crescente de energia e de recursos naturais.

 

Novos modelos econômicos e de gestão nas empresa são indispensáveis

Está mais do que na hora de buscarmos novos modelos econômicas e de gestão. Talvez um novo capitalismo, que nos permita não só atingir a sustentabilidade, mas também avançar em direção à restauração e à regeneração. Como nos propõe o Capital Institute”, liderado por John Fullerton, que tem como uma de suas missões incentivar a busca da transformação do nosso sistema econômico para alcançar a regeneração social e ecológica.

Com efeito, essa organização acredita que o sistema econômico impulsionado pelas finanças necessita urgentemente de um modelo regenerativo. Esse modelo deve estar alinhado com as leis – não com as teorias – dos sistemas naturais. Bem como com a compreensão científica de como o mundo funciona. Em resumo, entende-se que a economia regenerativa se baseia na aplicação das leis naturais, em padrões de saúde sistêmica, tanto na auto-organização e autorrenovação, como também na vitalidade regenerativa dos sistemas socioeconômicos. 

Então, dentre as muitas iniciativas destas novas abordagens cabe mencionar a busca da sustentabilidade corporativa pela introdução da cultura ESG, que vem tomando impulso no mundo dos negócios.

 

A cultura ESG nos novos modelos econômicos e de gestão

A sigla ESG – Environmental, Social and Governance, é uma das propostas apoiadas pela Organização das Nações Unidas  e que vem sendo disseminada pelas agências de ranqueamento corporativo. Por exemplo, podemos citar a Sustainalytics, a Thomson Reuters ESG Research Data, a Bloomberg ESG Data Service, ou ainda as bolsas mais importantes como a NASDAQ, entre outras.

É certo que a adesão à cultura ESG pode propiciar benefícios às empresas como por exemplo:

  • acesso facilitado a financiamento e capitalização,
  • identificação de oportunidades para inovação e crescimento,
  • gestão de riscos e de compliance,
  • oportunidade de melhoria da reputação e consequentemente da marca,
  • melhoria do relacionamento com stakeholders.

 

Urgência das Mudanças nos modelos de negócios

Atualmente, vivemos uma pandemia mundial, considerada a pior crise já vivida pelo País. Assim, estamos em um contexto que nos mostra a premência e urgência de mudanças profundas nas práticas de gestão. E isso tanto no nível macro das políticas públicas, como no nível micro da gestão empresarial.

Inclusive, há fortes evidencias de que esta pandemia, assim como outras que poderão nos assolar no futuro, se relaciona, entre outras transgressões contra a natureza, com o contato de humanos com espécies deslocadas de seus habitats. Sobretudo, isso decorre de ações antrópicas no meio ambiente. 

Assim, o urgente desafio de inovações para a gestão empresarial passa por todos os níveis da organização: desde a definição de estratégias de sustentabilidade até a integração e implantação de estruturas para medir resultados ESG.

 

Objetivos de Longo ou de Curto Prazo?

No entanto, vemos que os objetivos de longo prazo e de curto prazo muitas vezes conflitam entre si. Em outras palavras, lucros e investimentos em novas tecnologias de baixo carbono podem não estar alinhados.

Dessa forma, os investidores já começam a questionar se esse dilema pode afetar o valor de seus investimentos no longo prazo. Ou, por exemplo, se CEOs não deveriam ter seus pacotes milionários, incluindo ações das empresas, vinculados a resultados sobre objetivos de longo prazo, ao invés de bônus anuais. A saber, o FT- Financial Times publicou em 05/09/2021 uma reflexão sobre o assunto, apresentando estudos sugerindo que oferecer participação para empregados em geral, ao invés de somente para os ”C-levels”, pode ser mais produtivo no longo prazo. Portanto, uma fórmula mais contundente em direção ao capitalismo de stakeholders

 

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Prepare-se para as mudanças nos modelos de negócio

Em resumo, nesse contexto da incipiente era da economia regenerativa e de baixo carbono, se torna imperativa a reflexão sobre novos modelos econômicos e de gestão, com foco na inovação e na estratégia para a sustentabilidade dos negócios. Sobretudo, essa transformação é inadiável para a evolução do nosso modelo capitalista.

Sem dúvida, este fato constitui um grande desafio. Não apenas para as empresas, mas para a academia, para os profissionais, para as organizações da sociedade civil e para o poder público. Todavia, há que se ressaltar que estas ameaças representam também uma excelente oportunidade para as empresas e para os gestores e líderes visionários que estão atentos ao que está acontecendo.

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Isak Kruglianskas

Quem escreveu?

Isak Kruglianskas
Fundador, conselheiro e coordenador de programas e projetos na FIA, Coordenador do PROGESA FIA. É pioneiro no Brasil em pesquisas nas áreas de gestão ambiental e sustentabilidade corporativa. Diretor geral da Fundação Instituto de Administração (FIA) e professor titular na Universidade de São Paulo (USP). Doutor, livre docente e mestre em administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA/USP). Graduado em Engenharia Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).

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