A Governança de TI na Transformação Digital das Organizações
A saber, transformar significa alterar algo, dar nova forma, mudar um estado, tornar diferente do que era (Michaelis, 2022). Portanto, uma transformação parte de um estado inicial que, ao final, assumirá uma nova configuração. Então, partindo dessa constatação, esse conteúdo fala sobre os desafios que a Governança de TI traz para a transformação digital das organizações.
O primeiro passo: compreender a situação atual
Embora pareça elementar, muitas empresas estão conduzindo as suas “transformações digitais” sem ter a consciência da situação atual. Tampouco a definição da situação desejada a partir do esforço de transformação que estão empregando. Certamente, esse tipo de condução de uma transformação pode gerar problemas, como desperdício de recursos e perda de foco.
Inclusive, pode até mesmo conduzir a empresa para um estado em que perca as vantagens competitivas que usufrui atualmente. Além disso, sem adquirir novas vantagens competitivas, até porque não estipulou quais são essas vantagens que a transformação deveria proporcionar.
Os 3 desafios da Governança de TI para a direção das empresas
A saber, a Governança da Tecnologia da Informação define 3 tarefas para o corpo diretivo (ISO 38500, 2018) utilizar no contexto da transformação digital. Dessa forma, o emprego de recursos da organização em insumos digitais atingirá os objetivos da organização:
1. Avaliar:
Em primeiro lugar, as estruturas de governança devem examinar e fazer julgamentos sobre o uso atual e futuro da TI. Inclusive, incluindo planos, propostas e arranjos de fornecimento (internos, externos ou ambos).
Sobretudo, ao avaliar o uso da TI, as estruturas de governança devem considerar as pressões externas ou internas que atuam sobre a organização. Por exemplo, mudanças tecnológicas, tendências econômicas e sociais, obrigações regulatórias, expectativas legítimas das partes interessadas e influências políticas.
2. Dirigir, ou direcionar:
Em segundo lugar, as estruturas de governança devem atribuir responsabilidades e direcionar a preparação e implementação de estratégias e políticas. Aqui, as estratégias devem estabelecer a direção dos investimentos em TI e o que a TI deve alcançar. Por outro lado, as políticas devem estabelecer comportamentos sólidos quanto ao uso da TI.
3. Monitorar:
Por fim, as estruturas de governança devem monitorar, através de sistemas de medição adequados, o desempenho da TI. Isto é, devem se certificar de que o desempenho está de acordo com as estratégias. Particularmente, no que se refere aos objetivos de negócios.
Mas, como definir a situação atual e a situação futura da TI em termos de uma transformação digital?
Com certeza, uma transformação digital implica em mudanças que vão além da aquisição e implementação de soluções de tecnologia da informação. Conforme ilustrado no modelo de maturidade da Arquitetura de Integração dos Serviços Digitais, a empresa pode estar posicionada em diferentes estágios, em diferentes perspectivas (The Open Group, 2022).
A partir desse modelo, podemos aplicar as 3 tarefas do corpo diretivo no estabelecimento, deliberação e controle da transformação digital para uma organização. Dessa forma, temos:
Avaliar
Cada intersecção da coluna (nível) com a linha (perspectiva) pode ser avaliada em termos do quanto a empresa está aderente ao que é descrito. Dessa forma, é possível representar a situação atual do uso da TI na empresa nesse modelo.
Dirigir
Depois, é preciso dirigir ou direcionar os esforços necessários, considerando os objetivos de negócio conhecidos, ou definidos pela organização. Assim, é possível identificar a posição futura requerida da tecnologia da informação para atingir esses objetivos, indicando a situação desejada na intersecção de cada linha com cada coluna. Dessa forma, é possível estabelecer para onde vai a empresa em termos de uma transformação digital de sua arquitetura de integração dos serviços digitais.
Monitorar
Por último, monitorar a cobertura da lacuna, ou GAP, a ser preenchido com a transformação digital deliberada. Assim, mantendo os esforços alinhados com os objetivos a serem atingidos, conforme ilustrado na Figura:
A transformação digital é necessária para todas as empresas?
Com efeito, o que se entende por transformação digital pode variar de organização para organização. Isto é, dependendo do negócio, dos objetivos, do estado atual da TI e do estado desejado para a TI.
De fato, nem toda organização precisa transformar seus produtos e serviços em produtos e serviços digitais. Por exemplo, um posto de gasolina pode se utilizar de tecnologia da informação em diversas tarefas, mas o seu produto continuará sendo os combustíveis e serviços automotivos associados. Assim como uma pizzaria continuará tendo como produto a pizza. Da mesma forma, a mineradora terá o minério; o agronegócio, seus vegetais e animais; manufaturas, peças e artefatos etc.,
Então, para a maior parte dessas empresas tecnologia da informação, ou o “digital”, não é fim e sim um meio, como outro qualquer, utilizado para atingir seus objetivos. Aliás, mesmo empresas digitais podem não ter necessidade de fazer uma transformação digital. Por exemplo, o Uber, o Nubank e o Spotify precisam de uma transformação digital? Para transformar o que em quê? Afinal, essas empresas já nasceram digitais.
Governança de TI: é preciso manter o foco na transformação digital
Sem dúvida, a transformação digital sem foco definido pode trazer prejuízos. Primeiro, pode levar a empresa a empregar recursos em tecnologias emergentes que não necessariamente são aderentes aos objetivos do negócio. Consequentemente, traz frustração e perda de recursos, eficiência e, possivelmente, de clientes.
Por isso, o exercício de Avaliar, Dirigir e Monitorar pode maximizar o emprego dos recursos em termos dos resultados a serem obtidos. Quando não se sabe onde está e/ou não se sabe que resultados são desejados com a transformação digital, é como se os acionistas assinassem um cheque em branco em relação aos gastos com tecnologia da informação. Isto é, nessa situação estão jogando com o acaso. Aliás, isso pode se voltar contra o corpo diretivo ou contra quem o induziu a erro. Sobretudo quando os erros forem significativamente maiores em relação aos resultados.
Utilização de modelos na transformação digital pela Governança de TI
Atualmente há outros modelos, arquiteturas de referência, padrões de mercado, ou práticas identificadas em empresas que estejam obtendo resultados consistentes no emprego da tecnologia da informação. Logo, todos podem ser utilizados para se estabelecer onde a empresa se encontra em relação à essa referência e qual o estágio futuro que deseja estar em relação à mesma.
Com certeza isso pode ajudar a estabelecer cursos de ação consistentes, direcionar recursos adequados para a transformação desejada e monitorar o avanço da transformação. Não só isso, mas também definir o final do esforço de transformação em relação ao curso de ação definido. Afinal, a transformação Digital com uma boa Governança de TI zela pelos recursos aportados pelos acionistas em função dos objetivos a serem atingidos.