Entrevista com Prof. Isak Kruglianskas
Para fechar o mês de fevereiro, lançamos uma Entrevista realizada com nosso coordenador, o Prof. Isak Kruglianskas, fundador, conselheiro e coordenador de programas e projetos na FIA. Confira!
Nas últimas décadas, o Sr. teve como aluno muitos dos maiores expoentes da inovação e da sustentabilidade no Brasil e no mundo. O que o Sr. recomendaria para aqueles que estão entrando nestas áreas e querem se destacar no mercado?
I.K: Uma das decisões que o profissional que está considerando a possibilidade de entrar nas referidas áreas precisará tomar é decidir se vai querer continuar sendo um técnico, pois muitos profissionais que se interessam por estas áreas possuem formação técnica, ou se está disposto a se tornar um executivo (gestor) e, a partir dessa decisão se dedicar a aprender através de estudos e experiência prática os conhecimentos técnicos ou gerenciais (administrativos) conforme a decisão que venha a tomar.
A inovação e a sustentabilidade são temas atualmente de grande destaque para a competitividade empresarial o que indubitavelmente tem atraído profissionais tanto técnicos como gestores atentos à crescente demanda de profissionais nestas áreas que desejem se realizar como construtores da transformação para um mundo melhor.
O termo “inovabilidade” que junta inovação e sustentabilidade tem sido muito empregado ultimamente. Qual a relação entre a sustentabilidade e a inovação? Que tipo de profissional pode atuar nestas áreas?
I.K: Inovabilidade pode ser entendida como inovação concatenada com sustentabilidade. Na verdade, face ás grandes ameaças que cercam o nosso planeta e às desigualdades socioeconômicas que hoje enfrentamos e que tendem a se ampliar num futuro próximo, não se pode mais falar em inovação sem preocupação com a sustentabilidade, portanto, ao falar em inovação já está subentendido que a sustentabilidade tem que ser considerada.
Por outro lado, ao se pensar em sustentabilidade está também subentendido que se pretende atuar implementando mudanças em prol de um mundo melhor com organizações e empresas mais responsáveis ambientalmente e socialmente o que nos direciona para a busca de inovações que sejam sustentáveis, ou seja para a inovabilidade.
A inovabilidade é uma área que precisa ser abordada de forma interdisciplinar, idealmente de modo transdisciplinar, portanto, a inovabilidade demanda profissionais de diferentes especialidades que após algum estudo e/ou treinamento podem se tornar profissionais altamente competentes para atuar na inovabilidade, seja como técnico ou como gestor.
Ainda com relação à inovabilidade, quais as oportunidades e desafios mais comuns para as empresas atualmente?
I.K: Como já mencionado, as oportunidades para a inovabilidade são enormes e crescentes, pois a sociedade para “conceder às empresas a licença para operar” cada vez mais demandará delas e das organizações públicas ou da sociedade civil (ongs) o exercício da inovabilidade nos termos a que nos referimos nas respostas anteriores.
Os desafios são muitos mas destacaria como os mais comuns para as empresas atualmente: a compreensão da alta administração sobre a urgência dos grandes desafios que suas empresas já estão enfrentando e que certamente se aprofundarão; o caráter interdisciplinar e o entendimento de que os desafios da inovabilidade requerem um envolvimento e comprometimento da alta administração com as mudanças e com a sua responsabilidade social corporativa: o desenvolvimento de uma cultura pró-inovação e, não menos importante, a sensibilização e capacitação dos seus recursos humanos para a prática da inovabilidade em toda a organização.
O que o Sr. teria feito diferente na sua carreira, se soubesse naquela época o que sabe hoje?
I.K: Após me graduar no ITA como engenheiro aeronáutico fui trabalhar como responsável técnico durante quinze anos em empresas do setor industrial e só após esse tempo resolvi fazer uma pós graduação que acabou mudando os rumos da minha carreira profissional.
Se eu soubesse o que sei hoje teria iniciado meus estudos de pós graduação no máximo 3 anos após a minha graduação e optado pela carreira de pesquisador ou gestor em inovação e sustentabilidade, dependendo das oportunidades que surgissem no decorrer desta trajetória.
Quais foram os maiores marcos para a sustentabilidade e a inovação nas últimas décadas?
I.K: O livro Silent Spring de Rachel Carlson publicado em 1962 alertando sobre a agressão da natureza pelo homem e suas consequências nefastas para todos, por isso é considerado um marco histórico da sustentabilidade que foi seguido em 1972 pelo livro The Limits of Growth de Daniela Meadows com outros autores alertando sobre a catástrofe que se abateria sobre o mundo caso não fossem tomadas medidas para controlar o crescimento.
A Conferencia de Estocolmo em 1972 foi a primeira reunião mundial sobre Desenvolvimento Sustentável que produz em 1987 outro importante marco, o relatório da Comissão Brundtland que propôs uma primeira definição para o conceito de Desenvolvimento Sustentável, seguido por outro marco que foi a Rio 92 envolvendo 188 quase países para discutir a questão da sustentabilidade planetária.
De lá para cá o tema foi ganhando projeção cada vez maior e hoje é um tema da maior prioridade para todos as nações que possuem governos sérios e responsáveis.
A inovação sempre fez parte da atividade humana, tendo como um de seus marcos iniciais a publicação dos trabalhos de Christopher Freeman sobre economia da inovação que fundamentaram de forma mais consistente e sistemática a inovação como conceito e pratica empresarial.
Posteriormente, ainda com a importante contribuição de Freeman, poderíamos citar como outro marco importante a elaboração do do Manual Frascatti sobre P&D na decada de 60 que foi publicado posteriormente pela OECD e na sequencia tivemos outro evento marcante que foi a publicação do Manual de Oslo editado pela primeira vez em 1992 também pela OECD.
No Brasil podemos destacar como marco de pioneirismo as atividades e trabalhos sobre gestão de P&D e de Inovação promovidas a partir da década dos 70 pelo PACTo-Programa de Administração em C&T por professores da FEA/USP, equipe da qual tive o privilégio de participar.
Hoje praticamente todos os países possuem politicas que tratam do assunto nas temáticas de C&T (ciência e tecnologia) ou/e de P&D&I (pesquisa, desenvolvimento e inovação).
E o que vai mudar daqui pra frente?
I.K: Como colocados inicialmente a inovabilidade é uma área do conhecimento que precisa ser abordada de forma interdisciplinar ou idealmente transdisciplinar, portanto, com o avanço dos conhecimentos não só da inovação e da sustentabilidade mas também nas diversa áreas das ciências ao lado do desenvolvimento tecnológico acelerado, é de se esperar que a inovabilidade venha a se expandir exponencialmente e se tornar uma prática de gestão de primeira grandeza para o enfrentamento dos grandes problemas com os quais a humanidade terá que se defrontar e as empresas e demais organizações que não incorporarem esta prática estarão fadadas a desaparecer.